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terça-feira, 9 de agosto de 2016

Os Campos de Concentração e a Seca na História do Ceará

Em 2015 ocorreu o centenário de uma das maiores Secas da História do Ceará, cenário do livro O Quinze (Raquel de Queiroz) em 1930 e também escrito pelo historiador Rodolfo Teófilo, além da implementação dos Campos de Concentração, também chamados de Curral Humano.

O fato que é pouco debatido na História do Ceará, quase escondido e é nosso Dever, como estudantes da História, trazer e discutir o assunto. Momentos de nossa história, antes marginalizados e ocultos, agora possuem efetivas ferramentas e formas de abordagem, o que nos permite uma oportuna problematização da História vista por Baixo.

A expressão “Campo de Concentração” não foi criada no período da Segunda Guerra Mundial (onde ocorreram humilhações, assassinatos em massa e demais horrores do Holocausto), mas a língua portuguesa já registrava tal expressão há muito tempo.

No Brasil, foram criadas algumas experiências que receberam o mesmo nome, inclusive de forma oficial.

A região Nordeste do país sempre foi atingida brutalmente por longos períodos de seca, porém, as secas do início do século XX foram as mais severas, não apenas pelo impacto causado (população, geologia, fauna e flora, etc), mas por causa da situação social que a região vivia na época.

Durante a Seca de 1915, os cearenses tiveram contato com um desses campos. No Relatório do Presidente Barroso ao Diretor de Higiene Pública escreveu:

"Esse serviço tinha por compensação alimento abundante para todo pessoal do Campo de Concentração, de assistência medica e farmacêutica, além da distribuição de roupas para os mais necessitados, não só por parte do o papel do Governador da época seria também controlar a vida das multidões, evitar que elas pudessem prejudicar o projeto, modernizador das grandes cidades, como a Fortaleza da “Belle Epoque”, pretendiam copiar o padrão parisiense."

Os retirantes chegavam de todos os municípios do estado, a Capital Fortaleza por ser a cidade mais desenvolvida do Estado, a chegada não podia ser contida por nenhuma autoridade, pois a Fome e o Desespero das populações eram bem maiores do que o temor de uma possível reação da policia das forças militares para impedir que elas chegassem aos centros urbanos.


Notícia sobre o Campo de Concentração dos Flagelados, publicada no Jornal O POVO, em 16/04/1932
Fonte http://www.museudeimagens.com.br/grande-seca-do-nordeste/
Grandes condizentes de pessoas se abrigaram na Praça dos Mártires (conhecida atualmente como Passeio Público), um lugar Símbolo da modernidade da Capital cearense, frequentado diariamente pela Alta Sociedade alencarina.

O Governo, pressionado (e também convicto), conseguiu, por meio do Presidente Barroso, providenciar uma transferência dos retirantes (que chegavam a ser 3 mil forasteiros) para um terreno no Bairro Algadiço, que corresponde hoje corresponde aos bairros do Otávio Bonfim e São Gerardo (nas imediações da Avenida Bezerra de Menezes), pois na época era um local distante do Centro da cidade. Conforme as estatísticas Oficiais, no que diz respeito ao quantitativo de flagelados ingressados nos Campos de Concentração, segue abaixo:
  • Ipu, 6.507
  • Fortaleza, 1.800
  • Quixeramobim, 4.542
  • Senador Pompeu, 16.221
  • Cariú, 28.648
  • Buriti, 16.200
  • Total de 73.918 flagelados
Em 1932, as Elites idealizavam uma Fortaleza nos padrões da Belle Époque (referencia ao período europeu no final do Século XIX), e tal proposta tinha duas etapas: Saneamento Básico (limpeza, prevenção de doenças e manutenção da saúde pública) e o embelezamento da cidade (construções de destaque social para a Capital). Para tanto, no ano de 1932, podemos conferir um expressivo número de obras em andamento, conforme intenções já apontadas.


Jornal O Povo de 20/06/1932 - Em Fortaleza havia 02 campos de concentração Fonte: Arquivo do Jornal O Povo

Dessas obras (desde reformas e revitalizações até construções iniciadas do zero), podemos identificar uma reforma na já destacada Praça dos Mártires, o Mercado das Frutas e, principalmente, o Excelsior Hotel (considerado o primeiro arranha-céus de Fortaleza), alavancando, com força total, o Turismo na capital. Os Campos de Concentração (chamados de Currais do Governo entre os próprios retirantes) também eram parte do roteiro de turismo, numa tentativa de "não esconder" o estrago feito pela Seca.


BIBLIOGRAFIA:
  • A grande seca do Nordeste. Disponível em:< http://www.museudeimagens.com.br/grande-seca-do-nordeste/>.Acesso em: 5 ago. 2016.
  • NETO, Cicinato Ferreira. O Curral. In: 1915 - A História dos Sertanejos Cearenses no ano da Seca. Premius, 2015. 119-121. 
  • RIOS, Kenia Sousa. Isolamento e Poder - Fortaleza e os Campos de Concentração na Seca de 1932. UFC, 2014.

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